Envelhecer não tem de significar perder capacidades, mas sim ganhar novas formas de viver com qualidade. O convívio, o exercício físico e a atividade social transformam a idade numa oportunidade para cultivar a saúde, a aprendizagem e o propósito
Portugal é um dos países mais envelhecidos do mundo. Esta realidade, que pode parecer um desafio, deve ser encarada como uma oportunidade para reajustar o nosso olhar sobre os mais velhos. A velhice não é, nem deve ser, uma fase necessariamente menos positiva, repleta de limitações, mas sim uma época em que há mais tempo e disponibilidade para investir no bem-estar e na qualidade de vida.
De acordo com o Instituto Nacional de Estatística (INE), os Censos 2021 indicam que, em Portugal, por cada 100 jovens existem 182 idosos, estando o nosso país a ocupar o quarto lugar na lista mundial do envelhecimento mais acelerado. Por isso, os números são claros e demonstram-nos a urgência de adotar práticas que conduzam ao envelhecimento ativo. E uma das mais importantes é o exercício físico.
Sem dúvida que a atividade física praticada ao longo da vida é um dos maiores aliados para um envelhecimento saudável, pela sua capacidade de atrasar, minimizar e até reverter doenças. Mas isto não significa que, durante a etapa da velhice, já não faça sentido praticar exercício, muito pelo contrário, e ainda que de forma adaptada. Permanecer ativo fisicamente reduz o stress e o risco de quedas, enquanto promove a autonomia, a liberdade, a saúde mental e a dignidade.
As iniciativas sociais são, também, importantes para impulsionar esta cultura de movimento. O voluntariado neste sentido, por exemplo, tem sido fundamental para promover o convívio e a socialização e, ao mesmo tempo, evitar o sedentarismo e o isolamento. Curiosamente, começam a existir estudos, tal como o protocolo de investigação “When Movement Moves”, que pretendem demonstrar que atividades físicas inclusivas podem trazer benefícios não apenas a quem as pratica de um modo direto, mas também a quem assiste, convive e, assim, se integra na experiência. Este tipo de abordagens reforça que há diferentes formas de envelhecer com vitalidade, mesmo perante limitações físicas que possam existir.
As “blue zones”, ou seja, as regiões nas quais as populações vivem mais anos, ensinam-nos que o exercício físico deve ser um dos hábitos diários para reforçar a saúde e o bem-estar. Hobbies, uma alimentação equilibrada e, acima de tudo, viver rodeado do convívio e da comunidade são também fatores cruciais para criar rotinas e promover a longevidade e a qualidade de vida.
O envelhecimento ativo não depende unicamente dos mais velhos, uma vez que exige uma cultura que o respeite e incentive, em casa, nas instituições, nas comunidades e nas políticas públicas. Um país que promove atividades e exercício físico adaptado a todos, incluindo os mais velhos é, sem dúvida, um país que se está a encaminhar para uma sociedade mais saudável, mais sustentável e, acima de tudo, mais humana.
Assim, o que é relevante reter é que podemos, e devemos, escolher os nossos hábitos para promover uma vida saudável na sua plenitude e em todas as etapas. Optar pelo envelhecimento ativo é optar por uma melhor qualidade de vida, por uma maior esperança de vida e por mais energia, independência e dignidade. No final de contas, valorizar o movimento é ter o melhor dos dois mundos, porque, ao mesmo tempo, é acrescentar mais anos à vida e acrescentar mais vida aos anos.