Este artigo de opinião é assinado por Margarida Guedes de Quinhones, Presidente da Direção da Pedalar Sem Idade Portugal.
Por Margarida Guedes de Quinhones, Presidente da Direção da Pedalar Sem Idade Portugal
Vivemos num tempo em que os grandes desafios sociais, como a solidão, as desigualdades, ou as alterações climáticas, não podem ser resolvidos apenas pelos governos, as autarquias, ou as organizações do setor social. As empresas, pela sua dimensão e capacidade de mobilização, têm um papel incontornável nesta transformação.
Mais do que criar riqueza, espera-se que assumam um lugar ativo na construção de comunidades mais justas, inclusivas e sustentáveis. É neste contexto que o voluntariado corporativo ganha cada vez mais protagonismo, podendo ser uma ponte entre o mundo empresarial e as necessidades reais da sociedade.
Num mercado onde talento e clientes se conquistam cada vez menos pelo preço e cada vez mais pela missão, falar de empresas com propósito já não é apenas uma tendência, é uma necessidade. Não basta vender bons produtos ou disponibilizar bons serviços, é preciso demonstrar que se faz parte da solução para os grandes desafios sociais. E uma das estratégias mais poderosas para o conseguir tem sido, precisamente, o voluntariado corporativo.
Esta prática deixou de ser um “extra simpático” para melhorar a reputação das empresas. Hoje, é uma ferramenta estratégica que transforma valores abstratos em impacto real, tanto na vida das comunidades, como no dia a dia dos profissionais. O relatório “Help your employees find purpose – or watch them leave” da McKinsey (2021) é claro: 70% dos profissionais afirmam que o seu propósito pessoal está diretamente ligado ao trabalho. Este número é ainda mais expressivo na Geração Z, em que 80% dos jovens escolhem empresas alinhadas com os seus valores. O que antes parecia secundário tornou-se pilar decisivo na atração e retenção de talento.
Mas o voluntariado corporativo vai muito além de uma resposta às expectativas da nova geração de profissionais, ele é também motor de inovação e impacto estratégico. De acordo com o relatório “2025 State of Corporate Purpose” da Benevity, 88% dos líderes acreditam que estas estratégias de impacto preparam os negócios para o futuro e 91% reconhecem que o investimento em impacto está diretamente alinhado com o propósito empresarial.
Para que o impacto seja efetivo, é fundamental garantir regularidade nas ações. Muitas empresas optam por iniciativas pontuais, que são importantes, obviamente, mas é o envolvimento contínuo que gera transformação. Quando os colaboradores têm oportunidade de contribuir para uma causa de forma regular, sentem melhorias na sua satisfação profissional, maior sentido de pertença e até benefícios na sua qualidade de vida.
Outro ponto crítico é a integração no horário laboral. O voluntariado não deve ser visto como uma atividade extra que “rouba” tempo pessoal, mas sim como parte integrante da cultura da empresa. Quando realizado no tempo de trabalho, transmite a mensagem de que o contributo social é valorizado, reforçando a motivação e o compromisso dos colaboradores, enquanto consolida o posicionamento da organização perante a sociedade.
O voluntariado corporativo tem, ainda, a capacidade de unir profissionais em torno de uma causa comum, ultrapassando a lógica do simples team building pontual. Ele traduz-se em histórias, experiências e verdadeiro crescimento individual e coletivo. Pode ser a energia vital que alimenta projetos comunitários, associações locais ou redes de apoio social, permitindo-lhes ganhar escala, força e sustentabilidade, graças à participação ativa das empresas e das suas equipas.
Por tudo isto, promover o envolvimento social das empresas é muito mais do que responsabilidade corporativa: é um movimento transformador. Empresas com propósito não são as que escrevem frases bonitas nas paredes dos escritórios, mas sim as que colocam em prática cada uma dessas palavras. São as que se juntam a projetos sociais, disponibilizando tempo, competências e recursos para multiplicar impacto.
No final, todos ganham: negócios mais bem preparados para o futuro, comunidades mais fortes e profissionais mais realizados. Quanto mais regular e integrado for este compromisso, maior será o impacto gerado. A questão já não é “se” investir no voluntariado corporativo, mas “quando”. E a resposta é clara: o momento é agora.